EXPANSÃO DA ESTAÇÃO SECA NO CERRADO
Mudanças na circulação atmosférica e na evapotranspiração estão reduzindo as chuvas no Cerrado brasileiro segundo segundo pesquisa de Hoffman C.S. et al., (2023) divulgada na Revista Fapesp (Ed. 333, 2023). Analisando tendências de precipitação e a frequência de dias chuvosos sobre o Cerrado brasileiro entre 1960 e 20210 o bioma tornou-se significativamente mais seco nas últimas três décadas. A tendência dominante verificada para o período entre 1991 a 2021 indicou uma pequena redução, da ordem de 5%, tanto na média anual do índice de pluviosidade como no número de dias com chuva, em relação às três décadas precedentes. Foram 64,8 mm a menos de pluviosidade e 5,2 dias a menos de chuva em média por ano. Os valores adotados como base de comparação do bioma foram os medidos entre 1960 e 1990, que indicavam uma pluviosidade média anual de 1.421 mm e 103 dias com chuvas.
Analisou-se as tendências de precipitação e a frequência de dias chuvosos sobre o Cerrado brasileiro entre 1960 e 2021 quanto aos padrões sazonais sobre a região. Assim como as tendências na evapotranspiração, pressão atmosférica, ventos e umidade atmosférica sobre o Cerrado para elucidar as possíveis razões para as tendências detectadas na redução da precipitação.
As análises foram baseadas em dados de observação direta em 70 estações pluviométricas espalhadas por todas as sub-regiões do Cerrado e de uma combinação de dados do modelo com observações geradas pela reanálise global ERA5 na escala regional. Sob a escala local, o teste de Mann-Kendall.
As análises mostraram uma redução significativa na precipitação pluviométrica e na frequência de dias chuvosos nas regiões norte e central do Cerrado para todos os períodos, exceto no início da estação seca. As tendências negativas mais pronunciadas foram observadas durante a estação seca e o início da estação chuvosa, em que ocorreram reduções de até 50% na precipitação total e no número de dias chuvosos. Esses achados foram associados à intensificação do Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul, que vem deslocando a circulação atmosférica e elevando a subsidência regional.
O bioma perdeu metade da sua cobertura natural nas últimas década em decorrência da agropecuária intensiva. Segundo os autores do estudo, provavelmente o avanço das pastagens e das lavouras sobre a vegetação original tenha alguma influência direta na redução das chuvas localmente. Contudo, encontrou-se evidências de que a expansão e a intensificação do Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul (centro de alta pressão) sobre as áreas do Cerrado é um mecanismo significativo que causa a diminuição de chuvas. Esse anticiclone desloca o ar do alto para altitudes mais baixas e torna a atmosfera mais quente e seca, inibindo a formação de nuvens e da chuva. Outros fatores globais, como o aquecimento gradual do planeta e a redução na concentração do ozônio no hemisfério Sul, também podem estar relacionados à intensificação e expansão da área dos anticiclones. Os resultados sugerem uma expansão e intensificação da estação seca na região, potencializando impactos ambientais e sociais significativos que transcendem os limites do Cerrado.
Para saber mais: https://revistapesquisa.fapesp.br/seca-avanca-no-cerrado/
Fonte: Revista FAPESP, Nature
Categorias: Clima cerrado seca Anticiclone Atlântico Sul
URL relacionada: https://www.nature.com/articles/s41598-023-38174-x |
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